O MAGRIÇO DE 66
Eu
tenho memória. “Doha” a quem doer!
A
minha primeira recordação sobre mundiais de futebol data de 1966 em Inglaterra.
Essa edição, a 8ª, trouxe consigo uma surpresa que fez tremer todo o edifício
do futebol mundial – a SELECÇÃO PORTUGUESA liderada por um NEGRO FABULOSO que
em diversos momentos carregou às costas todo um país, toda uma equipa.
Com o aproximar da fase derradeira e decisiva, muitos se interrogavam se a competição especialmente desenhada pela FIFA para que a Inglaterra fosse campeã do mundo, iria ter esse tão almejado desfecho pretendido pelas altas instâncias do futebol internacional e mundial. Onze MAGRIÇOS oriundos de um país periférico, fronteiriço com um terceiro mundo ali tão perto, pobre, obscurantista, autocrata, contrariando os ventos da História, agarrado a políticas coloniais obsoletas, por tudo isto ostracizado pela Europa Ocidental em franco progresso após a maior e mais sangrenta guerra mundial, lutavam com denodo, com Alma até Almeida nos velhos estádios ingleses para erguerem bem alto o nome de Portugal e trazerem consigo o troféu mais cobiçado do mundo – a Taça Jules Rimet que ao tempo consagrava o Campeão de Mundo de futebol.
Portugal, apesar de todas as contrariedades e de algumas inexplicáveis decisões da organização do evento e com o beneplácito da FIFA, todas em prejuízo da SELECÇÃO PORTUGUESA, conseguiu um extraordinário e honroso 3º lugar após derrotar a forte URSS do guarda-redes Lev Yashin, a “Aranha Negra”. Antes disso, foi obrigada a viajar de comboio à última da hora, de Liverpool para Londres – inclusivamente com muitos dos jogadores a dormitarem e a descansarem no chão das carruagens - para disputar a meia-final com os ingleses, quando pela ordem do sorteio seria a selecção anfitriã a deslocar-se ao berço dos The Beatles, cidade já rendida e deslumbrada pela extraordinária exibição de Eusébio & Cia contra a Coreia do Norte, cujo jogo faz parte ainda hoje dos 4 melhores desafios de todos os tempos disputados em todos os mundiais. 5-3, após Portugal estar a perder por 3 a 0 aos 25 minutos de jogo com Eusébio, galáctico, inolvidável, a arrastar consigo para a glória todos os seus colegas de equipa e todo um Portugal que primeiro atónito e depois fascinado, vibrava ainda a preto e branco e em pantalhas de diagonais de quatro palmos com os cinco golos da SELECÇÃO LUSITANA, quatro deles tendo como autor a MAIOR LENDA e o MAIOR E MELHOR DE SEMPRE DO FUTEBOL PORTUGUÊS. Na meia-final em Wembley, perante quase 100.000 espectadores e com um árbitro francês complacente com a carniçaria sobre Eusébio de um perna-de-pau chamado Nobby Stiles, favorecendo recorrentemente os ingleses, fomos injustamente arredados da final com um resultado desfavorável de 2-1.
Em 1966, com doze aninhos, ainda muito catraio e a desfrutar de umas pequenas férias na Figueira da Foz, ouvi adoentado e na cama o relato do Portugal-Brasil e a primeira e fabulosa exibição de Eusébio & Cia. nesse mundial, mas já recuperado, vibrei juntamente com o meu Pai Benfiquista e meus Tios Sportinguistas, com os golos de Portugal contra a Coreia do Norte nas traseiras de um pequeno quintal debaixo de um alpendre que serviu nessa tarde calorenta de sala de cinema e de estádio para uma pequena multidão que nem televisão tinha em casa, mas que exultou e de que maneira com essa vitória inesquecível da SELECÇÃO NACIONAL.
Sim.
Aí sim! Sem clubismos, sem politiquices, sem idolatrias, sem redes sociais, sem
macacos, unidos numa só voz, todos clamámos por Portugal em todos os desafios.
Contra a Rússia ainda conseguimos o honroso 3º lugar, até agora único e imbatível.
Hoje,
melhor, ontem, vivi um paradoxo entre o meu ORGULHO LUSITANO e o GRITO DO
IPIRANGA DE RAFA SILVA. Dividido, senti na minha alma futebolística destroçada,
mais do que das outras vezes em que Portugal tem jogado, o quanto mal alguns
fizeram à selecção e aos seus sérios adeptos que em tempos foi a SELECÇÃO DE
TODOS NÓS e que até ontem era da posse exclusiva de um único personagem apoiado
ridiculamente por uma lagartinagem
cega de traumatizados, bajulado e adulado por um conjunto de idólatras e
idiotas complexados com o fito de derrubar do pedestal da glória o tal NEGRO
que tanto deu a Portugal. Tudo isto sistematicamente amplificado por uma CS - perante o silêncio e a cobardia cúmplices
de alguns benfiquistas, tomada por sportinguistas e alguns portistas que,
impotentes e complexados perante a grandeza do Glorioso de Portugal pretendiam,
à custa dessa individualidade, famosa no Real Madrid e não em nenhum clube
português – que durante praticamente mais de uma década e num afã que raiou o
ridículo e o patético também alinhou nesse miserável processo que terminou
ontem com a saída desse personagem pela porta dos fundos.
É
lamentável que um jogador que ocupará um lugar de destaque na História do
Futebol tenha sido arrastado com a sua própria conivência e desmedidas ambições para
um final sem honra nem glória. Ele próprio inebriado pelo seu estatuto de
pseudodivindade e que pela sua arrogância, convencimento e egocentrismo,
proporcionou este triste desfecho, culminado no “Desastre de Álcacer-Quibir” versão
“Doha”, último episódio de uma trilogia de arrepiar os verdadeiros adeptos da
selecção portuguesa. Os outros episódios que constam dessa nossa dramática
história foram protagonizados por D. Sebastião e o seu exército em 4 de Agosto
de 1578 e pelos contestatários de Saltillo no mundial do México em Guadalajara
no dia 11 de Junho de 1986.
Ainda
mais lamentável, a sua inenarrável fobia de bater recordes sobre recordes,
apontando antes deste mundial para o feito inigualável de Eusébio com 9 golos
marcados numa única edição, querendo transformá-lo com a cumplicidade de uns
reles e canalhas jornalistas especialistas em truncagens, num valor a somar por
vários mundiais deturpando a verdade com o objectivo de iludir ainda mais os dragartos, mas muito em especial os lagartinóides deste país.
O país dos sebastianistas da selecção acabou ontem. O salvador da pátria, o aventureiro que partiu para a guerra iludido com o seu poderio já decadente, que subestimou tudo e todos, acabou prostrado, de joelhos, rendido aos pés de uns valorosos guerreiros marroquinos, à partida considerados os out-siders desta competição.
Tal como D. Sebastião na real batalha de Alcácer-Quibir, aquele cuja doentia obsessão transformou num pretensioso fidalgo autoconvencido e bajulado pelos seus vassalos, que não soube envelhecer com a idade, declarando que teriam de levar com ele daqui a dois anos e daqui a quatro nas respectivas competições de selecção – campeonato Europeu e Copa do Mundo – irá decerto aparecer nos sonhos e na imaginação dos Albochechas, Danisbabys, Jorges Andrades, Caneiras, Pratas, Albuquerques, Mendes, Pinotes, Barbosas e quejandos desta vida, numa dessas densas “manhãs de nevoeiro” que perpassam tanta vez pelos relvados do Jamor, agarrado às cinco bolas de ouro e demais títulos conquistados no Real Madrid. Para esta fauna, D. Sebastião voltará outra vez. Sem dúvida!
Sinto tristeza por tanta bazófia, presunção e fanfarronice. Nem os três golos de Ramos “o feiticeiro”, ou as prestações de António Silva ou João Mário despertaram o meu entusiasmo. Observei tudo isso com uma enorme e inusitada frieza. Por tudo isto, pela bagunça e pelas trapalhadas comunicacionais na federação, pelo malabarismo do presidente das facturas, amigo e conivente com o Araújo das “deusas”, passando pelos seus assessores até às confusões empresariais e fiscais do seleccionador, perdi por completo o prazer e a alegria que em tempos me fizeram exultar com a SELECÇÃO LUSITANA. Outros tempos virão e talvez em vez de um D. Sebastião da ilha, surja novamente um verdadeiro MAGRIÇO, da mesma cêpa dos Onze que se bateram bravamente no Mundial 1966 ou dos Doze Cavaleiros que pelejaram vitoriosos no tempo de D. João I em Inglaterra.
*Das regateiras das fajãs, da opulenta e dengosa espanhola baby sitter paga a pêso de ouro e dos sapos culambistas, recuso-me de momento a escrever o que quer que seja.
Passo por cá sempre que há textos, nunca me "atrevo" a comentar, mas hoje considero que o devo fazer.
ResponderEliminarEstou convicto de que isto é o que pensam muitos portugueses. Não são a maioria, longe disso, mas são mais do que se julga. E entre os Benfiquistas estou certo que quase todos se reveem nestas palavras.
Obrigado e que nunca desista de defender o Sport Lisboa e Benfica e expor essa canalhada que tomou o futebol português de assalto, com o único fito de nos extinguir e espezinhar.
Senhor,
ResponderEliminar"Atreva-se" sempre e diga para todos nós o que sente, o que lhe vai na alma!
Grato eu, pelo seu comentário. Volte sempre!
Embora um pouco mais novo, sou de 58, curiosamente aniversario amanhã 😄, tbm eu tenho como primeira memória dos mundiais esse inolvidável de 66, precisamente pelas razões aduzidas no post. Quem tem essas memórias, se a saúde não as atraiçoar, jamais as deixará voar e sobretudo enganar por todas as outras subsequentes e tão mais recentes mas jamais comparáveis com aquelas.
ResponderEliminarComo diz a malta mais nova, a mim não me vendem fumo, principalmente com o egomaníaco, mau grado a sua bela e meritosa carreira, nem ele nem a sua comandita e demais hipócrita legião de bajuladores, que contribuíram insanamente para a criação do monstro. A idolatração leva quase sempre a maus fins.
Têm sido tantas, mas tantas, merdas factuais que evidenciam a sua personalidade narcisista e egomaníaco, traços que detesto nas pessoas, mas há uma que me incomodou em especial e que em décadas de vida nunca tinha visto: um indivíduo a querer roubar um golo a um colega de equipa. Porra, a um colega de equipa! Juro que jamais vi ou tive conhecimento de algo assim no mundo do desporto e em particular no futebol, onde tanta porra pouco ou nada séria há!
Cumprimento-o pelo post.
Caro Alma Encarnada,
ResponderEliminarGrato pelo cumprimento.
Vivemos tempos muito, muito difíceis em termos de antiBenfiquismo.
Estratégias maquiavélicas com as quais temos tido dificuldade em lidar, especialmente vindas da Inbicta Corrupta ou de Palermo do Douro como queiramos chamar à terra e à zona mais abjecta e promíscua que existe no país em termos desportivos e particularmente no futebol. O lagartêdo segue-os como os ratos seguiam hipnotizados, atrás do flautista.
É imperativo que TODOS NÓS, BENFIQUISTAS, nos foquemos no essencial e nos deixemos de discussões estéreis e acessórias sobre temas secundários. Há muito adepto do Glorioso com os neurónios avariados.
Na TV, na Blogosfera, nas redes sociais, na rádio, nos jornais. Têm medo de perder o lugar, outros tentam chegar-se à frente em termos associativos e de dirigismo no clube. Depois acobardam-se e outros não aceitam sequer as livres escolhas democátricas e eleitorais.
E não são meia.dúzia de militantes incondicionais que escrevem na Blogosfera Vermelha que sozinhos podem mudar o rumo dos acontecimentos.
Enquanto TODOS não tomarem consciência disto iremos viver em constantes sobressaltos.
SAUDAÇÕES BENFIQUISTAS do 25/11-54
Parabéns pelos 64. Por muitos anos bons e cheios de saúde.
👍💪
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