quinta-feira, 27 de junho de 2024

O TOLINHO DOS ESTATUTOS


“Estatutos são estatutos, cognac é cognac”
.

Alapado no seu chaise longue forrado a serapilheira, Berto bufava como uma tarântula vermelha mexicana destilando fortes vapores etílicos ao mesmo tempo que balbuciava repetidamente essa sua célebre frase.

Com os seus reduzidos neurónios já gastos, rarefeitos e encharcados, embrenhado em confusos e ininteligíveis pensamentos, o maluquinho dos estatutos lá continuava absorvido nas suas estatísticas fastidiosas, agarrado a um passado longínquo completamente desfasado da realidade actual, evocando as suas já estafadas historietas de antanho, como se fosse o último abencerragem da era da foice e do martelo e da estrela amarela de Che Guevara.

No seu clube em constante progresso, com um futuro próspero, sempre na liderança em relação às tecnologias de ponta e aos métodos inovadores em toda a área desportiva, social, comercial e financeira, pelas vitórias, glória e grandeza reconhecidas em todo o mundo, tão bem interpretadas por uma diáspora gloriosa em contínua divulgação de um evangelho único, não poderia faltar alguém que no seu pulso para além de uma fina tira de cabedal oferecida por uma vidente de renome na praça, tivesse um relógio com os ponteiros a rodar ao contrário do tempo – o bota-de-elástico genuíno, o “Berto dos estatutos”.

"Aqui d’el rei" que na nossa agremiação centenária, hoje, tudo está mal a começar pelos ditos cujos. O pregador da “moral” e dos “bons costumes”, evocando tempos de outrora, parado no tempo, inadaptado às exigências de um quotidiano voraz em que as decisões têm de ser tomadas em tempo recorde e consequentemente alvo de um escrutínio imediato e cruel, na maioria das vezes interpretadas ao sabor dos interesses obscuros ou de um inimigo bem identificado, quase que passa para o outro lado da trincheira transformando-se num colaboracionista inconsciente.

Cada vez mais as grandes organizações através das suas lideranças circunscritas a meia-dúzia de elementos altamente qualificados, estão em constante evolução e adaptação, com uma visão explícita e bem definida, regendo-se pelas suas estratégias, pelos objectivos traçados num prazo de tempo, por vezes muito limitado e avaliadas pelos resultados obtidos e não por palavras de ordem ou manobras subversivas de meia dúzia de out siders manipuladores de massas acéfalas, que com o jogo a meio pretendem mudar as suas regras numa busca desenfreada por um poder que essas lideranças conferem. Para isso, e nestes casos especiais das agremiações desportivas existe um escrutínio periódico em que todos podem participar através do voto.

No mínimo é curioso ver como vários esquizofrénicos se dedicam a este exercício espúrio de contestar tudo e todos, dia sim, dia não, minando a própria agremiação por dentro.

Absolutamente incrível.

E o mais cómico desta animação metafórica é aquele pequeno diabinho vermelho com os seus cornichos arrebitados e a cauda a abanar, sentado no ombro do Berto, de perna traçada, com ar de mauzão e forquilha em riste a dizer-lhe:

- “depois de tanto cognac no teu dia-a-dia, nunca imaginaste no mal que esse excesso te faria”.


Mesmo assim, de bóina basca enfiada até às orelhas e de fones arrolhados nos ouvidos absorvendo o talento musical de um grande compositor de clássicos, lá ia o tolito em passo apressado, qual profissional das assembleias gerais, com um rol de propostas de novos estatutos debaixo do braço, arengando e repetindo a espaços a inesquecível cassete dos tempos revolucionários em que a arruaça era lei e a democracia que hoje tanto apregoa era jogada para o caixote do lixo – “o povo, unido, jamais será vencido”!

Desde aqueles tempos tumultuosos em que até um garrafão partido foi postado em cima de uma mesa de conferência de imprensa decorada com uma bandeira vermelha gravada com um dos maiores e mais amados símbolos de Portugal, respeitado na Europa e no Mundo e que ainda muitos viram nas tv’s de então, o poder nunca mais poderá cair na rua!

 

MAXIMUS VERMILLUS

10 comentários:

  1. Não sei quem é o Berto, portanto também não sei se os neurónios estão reduzidos ou gastos, ou se é que alguma vez existiram.

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  2. Mas muitos sabem. Procura que saberás.
    Saudações.

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  3. Já sei quem é! Está sempre no contra. Deve querer ser presidente.

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  4. Não é esse em que estás a pensar...
    Está atento e investiga mais um bocadinho.
    Mais não posso dizer...

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    1. É quem estou a pensar. Já vai na 3ª dose (é 1 por dia, nem sabe o bem que lhe fazia).

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  5. Estatutos
    Um artigo por dia não sabe o bem que lhe fazia

    Alberto miguenes

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  6. Eu acho que é mais um cognac por dia...
    Estatuto:
    VIRACOPOS

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  7. Ora bem... ( o Martell cordon bleu está pela hora da morte, eh, eh, eh...)

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  8. O Martell cordon bleu, é p'ra ricos. Eu contento-me com com uma aguardente da minha região e colocar figos secos pingo de mel cortados e deixar por um ano. Não trocava pelo cordão azul do martelo

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