terça-feira, 19 de dezembro de 2023

QUERMESSE NATALÍCIA DA MORCANZOADA


 MAXIMUS VERMILLUS

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  1. O Inferno da Luz, segundo Mozer.
    "É preciso sair do país para enxergar o prestigio e o tamanhão do Benfica em todo o mundo. Estive três anos em França, no Marselha, joguei num estádio fantástico, o Vélodrome, convivi com grande jogadores como Papin e Waddle, mas o Benfica estará sempre no meu pensamento. Os meus companheiros de equipa não percebiam muito o meu entusiasmo pelo clube, já que sabiam pouco do futebol português, embora reconhecendo o tremendo historial do Benfica.
    Durante os primeiros tempos tive de aturar os comentários de Papin, logo desde o inicio, sempre que jogávamos em casa. Uns dias antes de cada jogo, o Papin chegava para mim e me dizia: “Mozer, vais ver o que é um estádio cheio e um ambiente terrível.” Terrível para os outros. Não sei se o Papin dizia isso para me intimidar, já que era novo no clube e não percebia muito daquela conversa. Mas para mim, sempre pensava: “Este cara precisava de jogar no Maracanâ ou no estádio da Luz, cheios. ” Era o que eu pensava.
    Até que, na Taça dos Campeões, nas meias-finais, o Benfica calhou no caminho do Marselha. Fiquei, ao início, desgostoso, porque ia defrontar o meu Benfica, o clube que os meus companheiros sabiam que eu adorava. Me lembro de Sauzée, o meu zagueiro do lado me ter perguntado: “Você vai estar em condições de jogar contra o Benfica? ”Aí, senti que beliscavam o meu profissionalismo. Nos dois jogos joguei a duzentos por cento. Depois do primeiro jogo, em Marselha, uns dias antes de jogarmos na Luz, virei para o Papin e lhe perguntei: ”Papin, você quer mesmo ver o que é um estádio cheio, com 120 mil a gritar todos para o mesmo lado? ”. Engraçada a reacção do Papin: “Você, está querendo me meter medo, Mozer?”. Não estava não e por isso lhe disse para esperar para ver. E já agora, tremer.
    Pois bem, chegou o dia, chegámos no estádio da Luz e fomos logo indo para os balneários. Muitos risos, muita convicção de que íamos jogar a final da Copa dos Campeões. Lembro até que Tapie disse aos jornalistas franceses que lhe podiam chamar de Bernardette se o Marselha perdesse a eliminatória. Antes de subirmos ao relvado, para o aquecimento, Papin ainda troçou de mim, dizendo que estava já “tremendo de medo”. E ria-se bastante. Os jogadores foram saindo do balneário e eu atrasei um pouco, porque estava colocando uma ligadura no tornozelo. Quando cheguei perto do túnel de acesso ao estádio, começo a ver os meus companheiros, completamente assustados e todos do lado de dentro, não querendo entrar. Só depois percebi que, nessa altura o Eusébio foi chamado ao relvado para receber uma homenagem e foi aí que o estádio quase vinha abaixo. Logo no momento em que os meus companheiros do Marselha se preparavam para entrar. Claro que voltaram atrás assustados e me perguntado: “O que era aquilo?”. Aquilo respondi eu, é o INFERNO DA LUZ.
    Aí todos me começaram a me dizer para ser eu o primeiro a avançar, subi as escadas, entrei no relvado, não fui mal recebido e quando olhei para trás, estava sozinho. Espreitando, à saída da escadaria estavam alguns dos meus companheiros do Marselha, ainda com um olhar de medo e só nessa altura começaram a entrar. No regresso às cabinas, perguntei a Papin: “Já sabes agora o que é um estádio cheio e um grande ambiente?” A resposta, nunca mais a esqueci: “Mozer, nunca vi uma coisa destas. Tudo isto é incrível. Sempre tiveste razão, o Benfica é enorme!”. Naquela noite, o Marselha perdeu, fiquei triste mas senti orgulho pelo Benfica. E já agora, naquele balneário, fui o único a ter uma vitória. Foi uma vitória moral, sobre aqueles que não acreditavam na grandeza do Benfica."

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