sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O GOLO DO EMPATE DE ARTHUR CABRAL EM SALZBURGO

Com uma exibição de alta qualidade, o Sport Lisboa e Benfica impunha-se categoricamente no Red Bull Arena, em Salzburgo.

Um Benfica Europeu à altura do seus pergaminhos e do seu brilhante historial!

Num salão repleto de Benfiquistas com alguns “anti” à espera da derrocada, a ansiedade já quase se transformava em desespero, pelo desperdício quase contínuo de ocasiões de golo. Só faltava mais um. Mais do que merecido.

Inexoravelmente, os ponteiros do relógio não paravam. Aproximava-se o soar do gongo, mas todos os “Bravos do Pelotão” e todos nós, continuávamos a acreditar.

Entretanto, chega ao salão um meia-leca de um pinto-calçudo, que, virando-se para a assistência “armado aos tordos”, perguntou, zombeteiro:

- Então, meus senhores, eles ainda não empataram?

Azar dos Távoras. No momento seguinte, Arthur Cabral, num soberbo toque de calcanhar, enfiava a redondinha na baliza austríaca.

Rebenta um estrondo assustador!

O pinto-calçudo, atarantado, vira a focinheira para a pantalha. Espantado pelo ruído, lívido e de boca aberta, mostra uma cremalheira acanalhada num sorriso abarracado e amarelo dos peidos.

Levantei-me do banco alto donde visionava os últimos momentos do desafio e disse-lhe:

- Toma lá, ó poeta! Está feito o empate! Parabéns!

… E já agora, puta que te pariu!

Avancemos para Bracara Augusta!

2 comentários:

  1. O Inferno da Luz, segundo Mozer.
    "É preciso sair do país para enxergar o prestigio e o tamanhão do Benfica em todo o mundo. Estive três anos em França, no Marselha, joguei num estádio fantástico, o Vélodrome, convivi com grande jogadores como Papin e Waddle, mas o Benfica estará sempre no meu pensamento. Os meus companheiros de equipa não percebiam muito o meu entusiasmo pelo clube, já que sabiam pouco do futebol português, embora reconhecendo o tremendo historial do Benfica.
    Durante os primeiros tempos tive de aturar os comentários de Papin, logo desde o inicio, sempre que jogávamos em casa. Uns dias antes de cada jogo, o Papin chegava para mim e me dizia: “Mozer, vais ver o que é um estádio cheio e um ambiente terrível.” Terrível para os outros. Não sei se o Papin dizia isso para me intimidar, já que era novo no clube e não percebia muito daquela conversa. Mas para mim, sempre pensava: “Este cara precisava de jogar no Maracanâ ou no estádio da Luz, cheios. ” Era o que eu pensava.
    Até que, na Taça dos Campeões, nas meias-finais, o Benfica calhou no caminho do Marselha. Fiquei, ao início, desgostoso, porque ia defrontar o meu Benfica, o clube que os meus companheiros sabiam que eu adorava. Me lembro de Sauzée, o meu zagueiro do lado me ter perguntado: “Você vai estar em condições de jogar contra o Benfica? ”Aí, senti que beliscavam o meu profissionalismo. Nos dois jogos joguei a duzentos por cento. Depois do primeiro jogo, em Marselha, uns dias antes de jogarmos na Luz, virei para o Papin e lhe perguntei: ”Papin, você quer mesmo ver o que é um estádio cheio, com 120 mil a gritar todos para o mesmo lado? ”. Engraçada a reacção do Papin: “Você, está querendo me meter medo, Mozer?”. Não estava não e por isso lhe disse para esperar para ver. E já agora, tremer.
    Pois bem, chegou o dia, chegámos no estádio da Luz e fomos logo indo para os balneários. Muitos risos, muita convicção de que íamos jogar a final da Copa dos Campeões. Lembro até que Tapie disse aos jornalistas franceses que lhe podiam chamar de Bernardette se o Marselha perdesse a eliminatória. Antes de subirmos ao relvado, para o aquecimento, Papin ainda troçou de mim, dizendo que estava já “tremendo de medo”. E ria-se bastante. Os jogadores foram saindo do balneário e eu atrasei um pouco, porque estava colocando uma ligadura no tornozelo. Quando cheguei perto do túnel de acesso ao estádio, começo a ver os meus companheiros, completamente assustados e todos do lado de dentro, não querendo entrar. Só depois percebi que, nessa altura o Eusébio foi chamado ao relvado para receber uma homenagem e foi aí que o estádio quase vinha abaixo. Logo no momento em que os meus companheiros do Marselha se preparavam para entrar. Claro que voltaram atrás assustados e me perguntado: “O que era aquilo?”. Aquilo respondi eu, é o INFERNO DA LUZ.
    Aí todos me começaram a me dizer para ser eu o primeiro a avançar, subi as escadas, entrei no relvado, não fui mal recebido e quando olhei para trás, estava sozinho. Espreitando, à saída da escadaria estavam alguns dos meus companheiros do Marselha, ainda com um olhar de medo e só nessa altura começaram a entrar. No regresso às cabinas, perguntei a Papin: “Já sabes agora o que é um estádio cheio e um grande ambiente?” A resposta, nunca mais a esqueci: “Mozer, nunca vi uma coisa destas. Tudo isto é incrível. Sempre tiveste razão, o Benfica é enorme!”. Naquela noite, o Marselha perdeu, fiquei triste mas senti orgulho pelo Benfica. E já agora, naquele balneário, fui o único a ter uma vitória. Foi uma vitória moral, sobre aqueles que não acreditavam na grandeza do Benfica."

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