Não, não é Ali Daei. É mesmo “ali já dei”. Ali, em Sevilha, em La Cartuja, já dei para o peditório. E o peditório, ainda mais intenso ao longo do torneio europeu de selecções, só dava para o Rónalde da Dolores. Os outros que se lixassem, que trabalhassem para o capataz, para o maior, o melhor, o maior entre os maiores, o maior dos maiores.
O final, tétrico, deixou o beato carrancudo e desiludido. O choro pungente dos patrioteiros, uma trupe farsola, clubística e encapotada, idólatra do recordista dos recordes, do suprassumo da mama, da mija, dos saltos, das corridas e de não sei mais do quê, no meio daquele silêncio final, só era entrecortado pelo som contínuo, alegre e vitorioso do repuxo saído da pila do Manneken Pis.
Afinal, ontem, o suprassumo da mija estava na famosa fonte de Bruxelas. Nem sempre a sorte de um Éder vulgar está ali, à mão de semear. O (H)azar(d) deu cabo daquilo tudo com Patrício a ver a banda passar.
Mas acalmem-se as pássaras mais agitadas. Fernando Facturas vai mandatar mestre macaco para agendar, dentro em breve, três desafios – o primeiro em Alice Springs, na Austrália, com a equipa nacional dos aborígenes; o segundo em Matmata, na Tunísia, com a selecção dos trogloditas ou com os primitivos de Andamão no Índico e por fim, com o team dos esquimós da Groenlândia. Daria muito nas vistas jogar agora com o Azerbeijão, com as Ilhas Faroé ou com San Marino, pelo que optaram por paragens mais longínquas. Sim, o Rónalde da Dolores terá por três vezes a oportunidade de derrubar mais umas garrafas de coca-cola, de lançar mais um microfone para um lago e pontapear a sagrada braçadeira de capitão da selecção. E então Ali Daei passará a “ali já dei”, tal é a obsessão dos patrioteiros alienados e ridículos, e de uma comunicação social merdilheira, bajuladora e submissa.
Ontem, esqueceram-se de referir que foi batido mais um recorde – Rónalde da Dolores jogou pela primeira vez contra os belgas, entre os quais os reumáticos Vertonghen e Witsel, perdeu e não marcou nenhum golo. A realidade é que Felix Brych (traduzido para português vernáculo como feliz broche, ou não tivesse sido ele que através de uma descarada gatunice permitiu à asquerosa A BOLA elevar o Beto Batoteiro a herói de Turim, numa final da Liga Europa falsa como Judas) não vislumbrou nenhum penalty para que o dito cujo fizesse aquela cena coreográfica tão característica e de um exibicionismo bacoco deprimente.
De resto, como há mais de meio século, imaginei-me a passear por Sevilha, confrontado com um patrioteiro esgazeado da comunicação social a dizer-me que ontem a torre Giralda – um secular símbolo sevilhano – seria chamada a partir de agora de torre “Rónalda”, que o belo parque Maria Luísa seria o “Jardim da Dolores” e o restaurante Torre del Oro passaria para a gerência das manas Aveiro. O Guadalquivir seria o rio onde o intocável mediático lançaria o próximo microfone. Também iriam substituir o Flamenco pelo Bailinho da Madeira e as memórias de Paco de Lucia pelas do Max da velha da Ponta do Sol. Já estarrecido pelo descaramento desta gentinha acabei por desembocar em La Cartuja, uma “ilha” ignorada nos primeiros tempos que passei por Sevilha. Deparei-me com o seu elefante branco. Um estádio que de muito pouco serve e que ontem imaginei como um pomar cheio de muito bela e boa “fruta”, onde dei de caras com o portentoso par de marmelos da tia Gina, que nem na minha quinta!
Avancemos para o mundial, como diz o outro, eh, eh, eh!
MAXIMUS VERMILLUS
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