quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

O Midas das orelhas de burro

SPORT CITY E BENFICA

 

Rúben Amorim: - “Tenho de pedir desculpas aos meus jogadores, não consigo acompanhar o raciocínio do outro treinador”.

[Midas foi um rei da mitologia grega, cuja história é bem conhecida. Tudo em que tocava transformava em ouro. Baco, deus do vinho concedeu-lhe esse dom que, paradoxalmente, estava a matá-lo. A própria filha ficou como uma estátua dourada, quando Midas lhe tocou. Desesperado, implorou a Baco que o livrasse daquele poder. Este, magnânimo, disse-lhe:

- “a água corrente desfaz o toque, mergulhas o que tocastes num rio e os objetos, hoje de ouro, voltarão a ser o que eram”.

Midas colheu um jarro cheio de água do rio Pactolo e começando pela própria filha banhou todos os objectos em que tocou, restituindo-os ao seu aspecto natural. Feliz, associou-se a Pã, deus dos bosques, que numa disputa musical com Apolo – Pã tocava flauta e Apolo dedilhava a sua lira – acabou derrotado por decisão de Tmolo, deus das montanhas. Midas, apoiante de Pã e com mau perder, instou Apolo a explicar-se. Este, incomodado com o atrevimento de Midas colocou-lhe umas orelhas de burro.]

O foguetório não parou esta semana até ao momento em que Bernardo Silva pegou na batuta e com a sua orquestra de Manchester – agora renomeada Sport City & Benfica - deu início a uma melodia que só acabou com uma saborosa mas achincalhante humilhação sobre os trauliteiros dos bombos e pandeiretas de Alvaláxia.

A CS indígena, cada vez mais parcial e fanática, não perdeu o ensejo de antes do desafio que opôs a constelação estelar de Guardiola com os pirilampos verdes e brancos de Rúben Amorim, proclamar aos sete ventos que estávamos perante um novo Midas numa analogia patética em que o imbecilzinho do lagartêdo transformava em ouro tudo aquilo em que tocava, colocando a equipa do lagartêdo nos píncaros da Lua.

O que eu me ri, refastelado no meu cadeirão ao ver que já estavam dois a zero aos 17’ e sem eu me ter apercebido, pois alternava este directo com a prioridade que dei ao excelente andebol do Sport Lisboa e Benfica sobre uns alemães bem cotados!

Na realidade foi um prazer ter visto aos 90’ uma grande “manita” a acenar da bancada onde se encontravam os adeptos do clube inglês, acompanhando a salva de palmas patética e os cânticos finais, ridículos e lamuriantes dos pascácios de Alvaláxia, se calhar pensando que irão passar a eliminatória em Manchester, daqui a quinze dias.

E acabei por não vislumbrar nenhum toque de Midas, mas sim, umas orelhas de burro, confirmadas nas declarações pós-jogo do midas de Alvaláxia a par com uma cachola de todo o tamanho dos pindéricos do lagartêdo que devem a todos e não pagam a ninguém.

Na Champions não há Nobres, Miguéis, Veríssimos, Malheiros, Oliveiras, Costas, Tiagos, Nunos, Godinhos & FONTELAS que lhes valham. Aqui cada porrada, cada intimidação, cada jogada suja são imediatamente punidas com sérios avisos à navegação. E não há protestos em redor e sobre o árbitro, nem bitaites aos fiscais-de-linha. Pisar o risco é sinónimo de “olho da rua” e miau, miau, miau, muito cuidadinho porque isso de pressões e traulitadas é lá para o campeonato indígena mais nojento até agora disputado e que culminou com o degradante espectáculo de circo romano na Pocilga do Freixo, onde coisa nunca vista, um porco sem asas aterrou de costas, deslizando dez metros por aquele corrupto relvado fora num aquaplaning impagável, um antigo e violento carniceiro do Bernabéu distribuiu a habitual fruta a granel, mostrando a todo o mundo que continua a ser um desordeiro profissional, que já deveria ter sido irradiado dos campos de futebol há muito tempo e onde os carteiristas de Palermo do Douro fizeram a melhor exibição das suas vidas ao limpar a carteira e o telemóvel ao presidente do grémio adversário e em que só faltaram os supermandriões para lhe afinfarem uns calduços à moda da Ribeira.

Desta vez, a CS desportiva e generalista enalteceu a equipa inglesa não tugindo nem mugindo relativamente à miserável prestação do grémio de Amorim. Quando há uns anos o Benfica jogou em Paris contra uma super-equipa do Paris St. Germain e perdeu por 3-0, os pasquins desportivos da nossa praça carregaram forte e feio com parangonas como “humilhação”, “crise”, “chumbo no teste da champions". Hoje é “masterclass” (deve ter sido uma invenção do andré pipa), “grande lição” - entre a primária e a universidade (esta deve ter desabrochado da caraminhola do bernardeco e o pasquim o nojo afina pelos “retidos na primária”.

Veja-se bem a diferença de tratamento. É por isso que nem sequer abro estas lixeiras jornalístico-desportivas.

O que dizer então da célebre “manita” já ter aparecido duas vezes nos jogos caseiros do grémio do lagartêdo?

A percepção de qualquer espectador minimamente atento ao que se passou ontem no relvado lagartinóide, foi a de que para este jogo não houve os aditivos milagreiros que fazem, por exemplo, matheus nunes correr 90 metros de uma ponta à outra do campo e no final ainda ter forças para rematar ao golo, que transformam aqueles cérebros dos jogadores em armas de arremesso aos árbitros e que proporcionam a distribuição de lenha a torto e a direito pelos palhinhas & coates desta vida acolitados pelos seus muchachos. 

Quando se tratou de jogar futebol a sério, a máscara do rei Midas de Rúben Amorim caiu. E caiu com um estrondo monumental. A grande equipa europeia que iria bater-se de igual para igual com o City é uma realidade virtual. Só existe nas delirantes cabeças dos jornalistas e adeptos afectos ao lagartêdo. Mais nada.

5-0! Acabaram os foguetórios e as fanfarronadas.

EUSEBIUS

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